10/12/2010

ILUDINDO A SI MESMO

O escritor americano Leon Uris (1924-2003) usou a palavra mendacidade para definir uma especial forma de mentira que chamou de “a arte de mentir para si mesmo”. Segundo Uris esse talvez seja o mais terrível de todos os defeitos humanos. Isso porque quem é capaz de mentir para si mesmo tem condições de justificar o ódio, a inveja, o ciúme, a avareza e qualquer outro mal. Se você aceita enganar a si mesmo, acaba aniquilando todos os verdadeiros preceitos morais que fazem de um ser humano uma pessoa respeitável. Quando, por outro lado, você aprende que não se deve mentir para si mesmo, tem boa probabilidade de se tornar uma pessoa decente, digna.

Uma das piores formar de mendacidade é a adoção de certezas absolutas. O sentimento de certeza é o grande inimigo do verdadeiro conhecimento. Conhecimento é um processo, uma viagem em andamento, e não uma chegada. Pessoas que acreditam em suas certezas são capazes de qualquer atrocidade, desde os campos de concentração nazistas, passando pelas absurdas guerras religiosas, até atitudes tristemente arbitrárias, que vemos serem tomadas por funcionários travestidos de autoridade. Pelo fato de terem certeza de que estão com a razão, estas pessoas acham que podem justificar qualquer ato de crueldade. Ao passo que ao longo da história tem sido justamente aqueles que duvidam, aqueles que questionam as verdades estabelecidas, os grandes responsáveis pelo progresso da humanidade. Quem menos acha que sabe demonstra maior sabedoria, pois, na verdade, a única coisa que se pode realmente saber com certeza na vida é a profundidade da própria ignorância.

Esta noção não é nova, nem original de Uris, que apenas lhe deu um novo nome. Um século antes dele, o jornalista, também americano,Gamaliel Bailey (1807-1859) chamava atenção para esta idéia ao dizer que a pior de todas as fraudes é enganar a si mesmo.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns, belo texto, lí em algum lugar que, a certeza absoluta é uma conduta das pessoas infantis.