Doutor Py Responde

 Diversos leitores escrevem pedindo ajuda para seus problemas. 
Neste espaço estão suas cartas e minhas respostas. 
Seus nomes são modificados para manter o anonimato.



31/01
Pergunta: Sempre adio as coisas importantes a fazer. Mesmo sabendo que serei prejudicada, adio ao máximo os compromissos. Até hoje não consegui tirar carteira de motorista, fico com medo, deixo para depois. Por que adiamos? Teresa (35anos), por e-mail

Teresa, 35 anos, por e-mail.


Resposta: Esta atitude é muito comum na maioria das pessoas. Quando não estão atentos, acabam adiando os compromissos, principalmente os que dão trabalho e são desagradáveis, acima de tudo aqueles com os quais não estão familiarizados. Cria-se uma absurda esperança de que a tarefa desapareça ou acabe sendo realizada por outra pessoa e por isto ela é deixada para o último dia pela maioria das pessoas. Esta atitude provavelmente vem da infância, quando as crianças sempre encontravam alguém que cuidava da realização dos seus compromissos. Os adultos repetem o comportamento infantil e ficam parados, esperando que os pais venham resolver o problema.



 26/01
Pergunta: Tenho quase certeza de não ser feliz. Costumo "engolir sapos", o que me faz me sentir mal. Meus pais são bons, mas temos pouco diálogo. Acho que preciso de uma terapia, mas minha mãe não vê motivo. Preciso realmente ou é exagero meu?R., 22 anos, por e-mail.

Resposta: Penso que a terapia se encontra muito mais na área da educação do que dentro do campo da saúde. Acho que o processo de terapia passa por um aprendizado que visa aumentar o conhecimento que a pessoa tem de seus defeitos e de suas qualidades. E o mais importante, sem dúvida, é desenvolver as qualidades pois elas irão neutralizar os defeitos. Tudo isso faz com que a terapia se assemelhe mais a um processo educativo do que a uma atividade curativa. Por isto, a meu ver, na maioria das vezes, uma terapia não é uma questão de precisar, mas de querer; não é uma questão de curar defeitos, mas de aperfeiçoar qualidades.

 26/01
 Pergunta:Namoro há sete anos um homem casado e ele se esquiva de enfrentar a situação precária de seu casamento e ficar definitivamente comigo. A falta de decisão significa, pra mim, a decisão de permanecer casado. E estar casado significa preterir-me. Se não significa, ao menos, minha leitura tem sido essa
.C., 29 anos, por e-mail.

Resposta: Acho que não é exatamente preterir a você, mas preterir os seus desejos. Não tenho dúvidas de que você é a parceira sexual que ele prefere, mas daí a pagar o preço da separação vai um longo caminho. Ele tem preferido “empurrar com a barriga” e, se puder, continuará sempre assim. Cabe a você definir essa situação e dar a ele o ultimato: ou separa ou perde você. Só então ele tomará uma decisão, mas receio que provavelmente vai optar pelo casamento. Embora as probabilidades sejam contra você, é possível que ele se disponha a se separar. Vejo apenas essa única alternativa para você pôr fim à sua angústia.



25/01
Pergunta: Sou homossexual. Contei para meus pais que tenho uma namorada e meu pai agora me acusa de ter 'matado' ele por dentro, diz que nunca vai aceitar. Afinal, o que eles tem com isso, sou discreta, mas eles pegam pesado, não me respeitam. O senhor acha que sou doente? Acha que Deus é contra?
Maria, 22 anos, por e-mail.


Resposta: Nem crime, nem doença, homossexualidade é apenas a preferência sexual de algumas pessoas. A inclinação homossexual pode variar desde uma pequena tendência até um impulso irresistível a escolher a relação com pessoas do mesmo sexo. Alguns religiosos têm uma atitude radical de condenação à homossexualidade, mas felizmente são uma minoria. Quando acreditamos na bondade divina e aceitamos que os homossexuais também são filhos de Deus, podemos imaginar que Ele deve achar piores os que matam seus semelhantes do que aqueles que os amam. Quanto a seus pais, é possível que com o tempo eles entendam melhor sua situação e aceitem que é você que deve decidir como viver sua vida.



17/01
Pergunta: Meu cunhado tem uma situação profissional melhor do que a minha e sinto ciúmes da amizade dele com minha esposa. Ela é honesta e muito boa comigo, mas receio que surja uma paixão entre eles. Li em uma revista que quando há desconfianças é porque há razão para isso. M., Benfica

Resposta: Sua insegurança profissional, que você descreve na carta, é razão suficiente para provocar suas desconfianças. Acho que o ciúme que você manifesta esconde sua inveja do sucesso de seu cunhado. A melhor solução para sua situação é melhorar a vida profissional, dedicando-se ao trabalho e estudando para aprimorar seu desempenho e conseguir novas possibilidades de trabalho. E não adianta ter medo dos perigos que não temos como evitar. É melhor cuidar daqueles que estão ao nosso alcance prevenir e deixar os outros ao sabor do destino.


30/11
Pergunta: Prezado dr Alberto, sou uma pessoa de 42 anos ,tenho muita dor nesse meu coração...há 1 ano minha filha resolveu morar com o pai ,ela tem 12 anos !ate hoje não aceito e nem entendo essa decisão,fui casada 20 anos com o pai dela ,me separei já há 3 anos ,reencontrei meu primeiro namorado antes de me separar 3 meses antes,estou namorando ate hoje. minha filha não aceita ,não quer fazer nenhum programa comigo com a presença dele...meu namorado fica muito chateado.. E eu não tenho minha filha comigo... Só a vejo de 15 /15 dias .não tenho contato algum com o pai dela ,deixamos de nos falar há 1 ano 2 meio .Resolvo qualquer coisa com ela ,minha filha ,hoje consigo falar melhor mas ate pouco tempo brigava muito com ela , pois estava muito chateada com isso tudo ,fiz algumas seções de analise, mas não pude fazer mais. Por favor preciso de uma luz . 
Obrigada R.Cristina

Resposta: Prezada R. Cristina. 
Filhas tendem a se vincular emocionalmente com o pai nestas situações e, por outro lado, têm dificuldade de aceitar novos parceiros tanto do pai quanto da mãe. É esperado que sua filha reaja mal à sua separação e ao seu novo amor. Com o tempo tal situação costuma melhorar e você precisa ter paciência e esperar, pois aos poucos sua filha voltará a se aproximar de você, o que já está até acontecendo.
  Mas quero aproveitar a oportunidade para lhe dizer que na adolescência a convivência com o pai é mais fundamental para o desenvolvimento do jovem do que a da mãe. Na infância, a mãe faz mais falta, o cuidado materno é essencial para o crescimento saudável da criança. Porém, na adolescênciacaráter dos jovens.
  Fique tranqüila, procure conviver bem com sua filha e todos os relacionamentos tendem a melhorar com o tempo, As mágoas e feridas vão sarando e as pessoas passam a conviver melhor.
Saudações




24/11
Pergunta: Dr. ando mais triste que o de costume, parece que tinha me acostumado com tal sentimento, como se fosse normal ser assim, infeliz, mas ando pensando em procurar um psiquiatra, ou psicólogo, não sei ao certo se o que sinto é normal,nunca vi tamanha falta de esperança, confesso que não acho que a minha saúde mental esteja 100%,o normal seria a felicidade , que é bastante relativa, pra mim felicidade é a vontade de viver apesar de todos os obstáculos, todas as perdas e frustrações.
Eu olho pro futuro e como se tudo tivesse claro, e traçado, o vejo na minha enorme bola de cristal que se chama passado, eu parei no tempo, e de agora em diante a minha vida é uma sequência de passos já dados, e o pior é saber aonde eles me levam, eu não sei se há remédio pra falta de esperança, não creio que exista algo que me faça resgatá-la, são anos a fio de vasta experiência,desde sempre é assim, o que muda de ontem pra hoje é a minha capacidade já esgotada de sonhar. me sinto frustrada o tempo todo , hora pelo que eu queria ter , hora pelo que queria ser e não sou, enfim, frustração,
Esse é o tema enredo da canção que se passa na minha vida, as vezes em alto e bom som, as vezes numa entoação tímida,mas sempre presente, sempre .
Eu não vou fazer nada pra mudar, não é do meu perfil, assim sofro porque não mudo, mas não mudo, assim sou, diga –se de passagem eternamente inconformada, e jamais acostumada ,eternamente angustiada.Amanha eu serei feliz,mas só amanha,hoje não, por muitos anos eu vivi assim, me projetando no futuro e fazendo disso um apoio, mas agora percebo que o meu dia de hoje foi exatamente como o dia de ontem, logo hoje é amanha, e essa ,não sei se errada conclusão, tem me tirado a vontade de seguir em frente.
Tenho 21 anos,estudante de uma boa faculdade, sou uma excelente aluna, a melhor da turma,no entanto ainda assim não consigo ver algo de bom a me esperar num futuro próximo, só tenho olhos para o que eu não conseguirei ser, e para aquilo que não sou, e é desesperador saber que continuará assim.
A minha duvida é se eu tenho solucão, da pra consertar? eu nunca fui a favor dos remédios mas confesso que sozinha eu não conseguirei sair do lugar, ando bastante pessimista e com a auto estima baixa, não há nenhuma grande tragédia na minha vida ,alem da simples "realidade" ,e tenho certeza que existem milhares de pessoas no mundo com problemas maiores que os meus, mas o que me diferencia delas talvez seja a capacidade de enfrentá-los, a minha nesse exato momento é nula.

Fernanda


Resposta: Oi, Fernanda.
Lendo os dois primeiros parágrafos de sua carta comecei a imaginar uma mulher vivida, sofrida, frustrada, longos anos de experiências negativas e incapaz de ver uma luz no fundo do túnel de seu futuro. No terceiro parágrafo você diz ter 21 anos, ser estudante universitária e boa aluna.
Permita-me lhe dizer que você é muito jovem, tem a vida pela frente e um enorme potencial. É natural que você não consiga enxergar seu futuro, ele ainda está longe deste momento de sua vida. Embora você a creia vasta, sua bagagem de experiências ainda é muito pequena para poder lhe orientar. Na sua idade ainda dependemos da experiência alheia e creio que por isso você se dispôs a me escrever. Tenho muito para lhe dizer sobre a vida, principalmente afirmar que ela é imprevisível e que não temos como prever o que ela nos oferece.
Penso que você precisa rever seus desejos para o futuro, seus projetos e expectativas. Rever mesmo, repensar seus planos de vida, imaginar-se no futuro e procurar antever os caminhos a serem tomados para chegar onde desejar. Como eu disse acima, seu potencial é enorme e creio que a grande dificuldade vai ser escolher e ter que abrir mão de muitas alternativas.
Creio que uma terapia poderá lhe ajudar a encontrar um rumo, mas lembre-se que rumos podem, e as vezes precisam ser mudados e portanto é preciso ter flexibilidade para buscar sempre novas possibilidades ao longo da vida.
Sugiro que leia meus livros, penso que poderão lhe ajudar, foram escritos para isso: ajudar as pessoas que estão, como você, precisando repensar a vida.
Boa Sorte. Saudações.
Luiz Alberto Py



26/11
Pergunta: Dr. Luiz Alberto
Escrevo-lhe novamente só para agradecer , obrigada por me lembrar que tenho 21 anos. Quando li o que o senhor escreveu eu comecei a rir, de alegria.Eu tenho 21 anos. Acho que nenhuma das palavras que li foram tão impactantes quanto ver a minha jovem idade pronunciada, escrita por outra pessoa. E a descrição que fez a princípio sobre a mulher vivida, sofrida, frustrada, longos anos de experiências negativas e incapaz de ver uma luz no fundo do túnel de seu futuro. Essa era a minha projeção de futuro. Acho que eu me via assim, me sentia assim, o que é absurdo, e na hora eu me questionei sobre essa visão que eu fazia de mim mesma, e sabe por que essa visão Dr. Porque parece que eu peguei todas as frases pessimistas que eu tinha escutado ao longo da minha vida e as tomei como verdade absoluta. Há alguns dias um colega se virou contra mim diante de um elogio do professor a minha pessoa e disse: “Você é boa aluna, mas não vai ser boa profissional”, ou minha família soltando os jargões “você vai ficar pra titia”a todo tempo me lembra ou questiona porque eu não saio, não me divirto, ou que eu já devia estar trabalhando, namorando, e mais uma dezena de verbos no gerúndio de coisas que eu já devia estar fazendo, alguns se arriscam até a levantar hipóteses, dizem que sou muito arisca, arredia, outros que sou besta, o meu pai as vezes questiona pejorativamente minha beleza, as vezes a minha inteligência .Eu simplesmente peguei isso tudo e deduzi o seguinte: “eu não vou ser boa profissional, eu não sou bonita, eu não vou casar, e se eu não vou casar também não vou ser mãe que eu tanto quero”. E realmente parecia que isso era tão verdadeiro, essa perspectiva de frustrações de coisas que eu nem se quer havia tentado, que como já disse acima me parecia uma verdade tão absoluta esse meu futuro de coisas que eu não seria, que eu me sentia daquela forma, covardia minha, muita covardia de querer desistir da vida com 21 anos de idade, e tomando como sentença a projeção de como eu achava que seria. Mas era tão forte o sentimento que parecia que eu já havia tentado e fracassado. E eu sentia um peso enorme sobre mim que passou quando meditei nas suas palavras. E como boa estudante que sou, não sei como fechei os olhos para o “potencial que eu tenho”, já cansei de estudar sobre potencial, aquilo que não é ainda mas pode vir a ser, uma energia guardada mas que há qualquer momento pode se manifestar. E depois a maioria dessas pessoas que levantam essas questões sobre mim nem sempre tiveram a intenção de me ofender ou magoar, algumas sim, outras não, mas eu é que sou responsável por fazer as devidas interpretações e de aceitá-las ou não. Que Deus abençoe o senhor pelas sabias palavras que tem ajudado tantas pessoas. Não queria importuná-lo com minhas palavras, mas eu precisava lhe agradecer, só isso. Receba de mim um abraço apertado e um beijo no coração.
Atenciosamente, Fernanda


Resposta: Fernanda,
Estou grato por sua resposta. Presenciamos uma rápida cura... Gostei de ver como você bem aproveitou minhas palavras e aproveito para lhe dizer que uma das minhas razões para ser otimista com relação a você foi ter observado como sua escrita é clara e seu texto tem qualidade. Constatei novamente no que você me escreveu agora sua capacidade de bem se comunicar por escrito. Gostaria de ter sua autorização para colocar sua resposta no blog para que sirva de exemplo para os leitores de como um pequeno diálogo pela internet pode ser útil e eficaz. Aguardando sua resposta, aproveito para retribuir seu abraço e seu beijo.
Afetuosamente. Luiz Alberto

Um comentário:

Monica Guinle disse...

Sou terapeuta formada pela PUC Rio. Clinico há mais de 13 anos.Trabalhei com psicoterapia Breve na Santa casa e fiz uma formação em Gestalt terapia, porém Venho há muito tempo sentido necessidade de ampliar meu repertório terapeutico e isso ocorreu sempre que participei enquanto grupo, sendo em workshops, psicodramas ou na própria formação de Gestalt terapia.
Quero me tornar terapeuta de grupo e não encontro nenhum lugar no Rio que forme terapeutas nesta área nem que promovam grupos de terapia. Todos as referencias que busco me levam a você. Me dá uma luz? você ainda trabalha com grupo? Me indica um caminho?
desde já te agradeço.
Monicaguinle@gmail.com