29/01/2012

Sobre o projeto com a Casa de Cultura Laura Alvim

Notícias do projeto na Laura Alvim. Algumas pessoas não puderam ir, de modo que o grupo reuinido (sete pessoas) conversou sobre o que fazermos. Apresentei uma proposta inicial que transcrevo a seguir.

Proponho pensar a questão da vida comunitária. Antigamente as pessoas desfrutavam de uma vida comunitária em função da pequena população das comunidades. Todos se conheciam e sabiam razoavelmente da confiabilidade de cada um. As pessoas eram conhecidas e avalizadas pela comunidade. Problemas sempre surgiam e eram enfrentados comunitariamente. Por exemplo, se uma árvore caia sobre uma casa todos colaboravam no reparo da mesma. Uma criança sozinha, ou uma pessoa enferma eram alvo da atenção e da ajuda de todos. A solidariedade, a ajuda mútua, a caridade, estavam presentes de forma muito constante e explicita.
Atualmente, com o crescimento das cidades, as pessoas se distanciaram e a vida comunitária praticamente se resume a encontros em cultos religiosos, onde a religião comum aos participantes os aproxima e avaliza. Colegas de colégio e faculdade se dispersam e alguns cultivam amizades – o que é diferente de vida comunitária. Penso que podemos estimular o renascimento de comunidades onde as pessoas se reúnam através de um interesse comum. Tais reuniões vêm ocorrendo a partir da convivência na Internet, mas a esta convivência falta o aval da credibilidade, pois as pessoas se conhecem virtualmente e seus currículos não são confiáveis.
Penso que podemos criar o embrião de uma comunidade que se interesse em testemunhar o fenômeno de seu próprio crescimento e desenvolvimento. Temos um espaço para viver esta comunidade e nela debatermos questões de nossa cultura e assuntos que consolidem o desenvolvimento das relações comunitárias entre os participantes. Por vezes temos a ilusão de termos uma vida comunitária simplesmente porque trocamos cumprimentos frequentes com o jornaleiro ou somos reconhecidos por garçons de restaurantes etc. Reuniões de condomínio também podem nos dar a ideia de estarmos vivendo uma comunidade quando o mais provável é que haja mais desentendimento do que espirito comunitário em um grupo de condôminos.
A questão da solidariedade me parece crucial quando abordamos o tema da vida comunitária. Nós descendemos de um homem primitivo que conseguiu sobreviver em um meio ambiente difícil e muito hostil – onde ao mesmo tempo era predador e presa – exatamente pela capacidade de atuar em grupo e exercer intensamente o sentimento de solidariedade. Trazemos o instinto de solidariedade em nosso DNA, pois quem não o possuía não deixou descendência. Creio que foi a capacidade para a solidariedade que permitiu que se construísse a Civilização, na base da troca de favores e de ajuda.
Trabalhei muito e durante muitos anos com grupos terapêuticos e psicoterapia de grupo e aprendi que o sucesso deste tipo de terapia estava muito relacionado com a solidificação de um sentimento de solidariedade e de espírito comunitário que se desenvolvia espontaneamente durante a evolução da terapia. Hoje, olhando retrospectivamente, percebo que este era o motivo pelo qual os resultados positivos de uma terapia grupal excediam significativamente os resultados da terapia individual. Sei que uma afirmativa como esta é extremamente polêmica, mas trata-se de um debate dentro do qual possuo fortes argumentos para apresentar a partir de uma longa experiência pessoal. Na época eu identificava um clima afetivo que chamei de espírito fraterno. As pessoas conviviam como irmãos, com o lado positivo da fraternidade – a solidariedade, tanto quanto com o lado negativo: a rivalidade. Tal fraternidade é, mais especificamente falando, um produto do desenvolvimento instintivo do espirito comunitário.

2 comentários:

Thais Linhares disse...

Comentei com minha colegas de projeto (trabalhamos juntas desenvolvendo roteiros) sobre o nosso grupo no Laura. Surgiu uma expressão bem bacana: círculo de confiança.

Anhangá Mirim disse...

Quando voltamos? Beijinhos!