07/12/2010

MEDO DE MORRER: DESEJO DE VIVER

Todos sabem que a coisa mais certa na vida – por sinal, a única realmente previsível – é a morte. Cada um de nós sabe que, mais dia menos dia sua vida chegará ao fim. Se a certeza da morte é tão clara, por que ter medo de morrer? E o mais estranho é que esse medo seja tão intenso para tanta gente, já que ele se refere a alguma coisa tão determinada quanto inevitável.

O temor da morte tem duas causas principais. A primeira decorrente do sentimento de culpa que a pessoa desenvolve, sem perceber, quando não se cuida bem fisicamente e não zela pela sua qualidade de vida. Pessoas que vivem assim, de forma desleixada, passam a temer um castigo por tal desmazelo. A segunda decorre do sentimento de que não se está aproveitando bem seu tempo de vida, o que faz com que a pessoa encare a morte como a frustração da possibilidade de realizar tudo o que está deixando para depois. Neste caso, o sentimento associado à morte é o da perda de uma grande fortuna não utilizada. Quem usa bem a vida e a aproveita, sente-se como se tivesse usufruído bem de sua fortuna e não lamenta quando esta acaba. O medo de morrer é, na verdade, uma forma confusa e desorganizada de manifestar o desejo de viver.

O poeta espanhol Francisco de Quevedo (1580-1645) escreveu: “Poucos sabem encontrar entre as dádivas de Deus a brevidade da vida.” Com isso ele procurou salientar que a vida não precisa ser longa, mas deve ser intensa e feliz. Para melhor estimular o desejo de viver, podemos utilizar o recurso de lançar mão dos elementos que nos ajudam a apreciar a vida. Quando prestamos atenção na beleza e na alegria contidas no mistério e na magia de viver, bem como nos pequenos prazeres que podemos saborear a cada dia; e quando procuramos viver a vida intensamente e cuidamos bem da saúde, reforçamos o valor da vida e diminuímos o medo de morrer. Valorizar cada pequeno momento de nosso dia a dia favorece o estado de felicidade e nos infunde a serenidade para enfrentar a perspectiva do nosso fim.

Um comentário:

Zu disse...

Talvez as pessoas tenham mais medo das doenças que normalmente antecedem a morte do que da morte em si.

Quando ficamos mais velhos a vida ganha outro sabor. Coisas que antes eram consideradas banais agora ganham status de especiais.

Hoje curtimos momentos que antes poderiam passar batidos: Um por do sol na montanha, uma lua cheia, cheiro de grama molhada, um bolo assando no forno, um jantar com amigos regado a risadas...
Esses momentos são especiais e os curtimos cada vez mais não sei se inconscientemente antecipando o futuro que chegará para todos.

O sr. já leu "Sobre a brevidade da vida" do Sêneca? Muito bacana. Adorei!
Abraços.