08/11/2010

PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA

Nas coisas do amor, homens e mulheres convivem enfrentando dificuldades relacionadas com o fato de que a atitude de cada sexo para com a vida afetiva é bastante diferente, por vezes até oposta. Daí a razão das queixas, tanto de homens quanto de mulheres, sobre a dificuldade de entender o parceiro. Um tradicional exemplo: enquanto as mulheres tendem a ser monogâmicas, opostamente os homens apresentam tendência à promiscuidade. Tal padrão de comportamento ocorre sistematicamente em quase todas as espécies animais, incluindo mesmo os insetos. Uma nova ciência, a psicologia evolucionista, dedica-se a observar e explicar fenômenos como este e tem contribuído para uma revisão radical das idéias tradicionais sobre a natureza humana, nosso funcionamento mental e emocional, bem como sobre nosso comportamento.

A psicologia evolucionista se apóia no conceito darwiniano da sobrevivência do mais apto, enfatizando que a sobrevivência genética depende de uma específica aptidão para a reprodução. Quer dizer, o mais apto para sobreviver é, geralmente o mais forte, o mais inteligente, o mais ágil. E o mais apto para reproduzir costuma ser, antes de mais nada, o mais ativo sexualmente e, principalmente, o mais capaz de proteger e ajudar seus descendentes a crescerem, sobreviverem e se multiplicarem.

As bases da psicologia evolucionista foram estabelecidas pelo geneticista britânico A. J. Bateman, e pelos biólogos americanos George Williams e Robert Tivers. Eles observaram dois dados essenciais nos padrões de reprodução. O primeiro é que o legado genético dos machos depende da quantidade de fêmeas com que eles cruzam. A implicação deste achado é clara e simples: a seleção natural estimula "uma avidez indiscriminada nos machos". O segundo é a importância da atenção dos pais para com seus filhos no aumento da probabilidade de sobrevivência destes.

Dado o fato de que a reprodução depende de uma extensa atividade sexual por parte do macho (quanto mais fêmeas ele fecundar, mais seus genes sobreviverão nas gerações vindouras) e da possibilidade da fêmea encontrar apoio e proteção dos machos – principalmente da parte do pai de seus filhos – para cuidar da prole, tais características fazem parte da carga genética que inevitavelmente estará mais apta a ser transmitida. Isto nos leva a concluir que a fêmea interessada por acasalamento estável levará vantagem na transmissão de seus genes, enquanto que o macho será mais bem aquinhoado quanto mais promiscuamente se comportar. Naturalmente, existe um nível ótimo de promiscuidade, a partir do qual o macho deixa de ser um eficaz transmissor de seus genes, por não ser capaz de cuidar adequadamente da extensa prole que terá gerado. O macho que gera dez filhos mal-cuidados dos quais poucos sobrevivem e mesmo assim de forma precária, transmite seus genes com menos eficácia do que o outro, que gerando apenas dois ou três filhos protege-os e os ajuda a crescerem e se tornarem também reprodutores mais aptos.

Portanto, enquanto o sucesso do macho quanto a sobrevivência de seu patrimônio genético depende de seu impulso para a poliginia, o sucesso da fêmea depende de sua capacidade e interesse pela escolha do melhor macho possível para cuidar de seus filhos, o que tenha mais aptidão para manter uma família estável será mais valorizado.

Estes dados científicos são úteis em nossas relações afetivas por nos ajudar a entender que as diferenças instintivas e primárias de comportamento entre homens e mulheres são geneticamente determinadas e não dependem tanto quanto se costuma acreditar da cultura e da educação. Por isto mesmo, cabe a cada um de nós desenvolvermos compreensão e paciência para com as características psicológicas do sexo oposto, apesar delas tanto nos irritarem. Sabendo que elas são instintivamente determinadas teremos mais possibilidade de encarar com boa-vontade o comportamento dos parceiros, o que facilitará a estabilidade de nossas relações amorosas. E também teremos a possibilidade de interferirmos com a razão e a vontade para não ficarmos escravos de nossas inclinações instintivas.

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