25/08/2010

TRANSFORMANDO O COTIDIANO

Outro dia eu vinha dirigindo pela orla da Lagoa e percebi que o carro na minha frente estava em velocidade muito lenta. Passei para a pista do lado e o ultrapassei. O carro que vinha atrás piscou o farol e buzinou, mostrando-se irritado com minha manobra. Tenho certeza que havia bastante espaço para eu fazer a ultrapassagem sem problemas, mas creio que o motorista do carro que vinha atrás estava acelerando e, embora muito distante, foi obrigado a reduzir a aceleração, porém, quase certamente, sem necessidade de frear.

Logo adiante, o sinal fechou e percebi que o ofendido iria parar exatamente ao meu lado. Enquanto freava pensei nas alternativas que tinha. Poderia, ou evitar olhar para o lado ou encarar o vizinho e, eventualmente, fazer um gesto agressivo ou dizer alguma grosseria. Como tive tempo para raciocinar, optei por fazer um gesto amistoso, acompanhado de um sorriso e um pedido de desculpas pelo inconveniente – muito embora eu continuasse achando que não o havia prejudicado em nada. Com efeito, o motorista, que chegava de cara amarrada e ar hostil, se desarmou e respondeu com outro gesto amistoso e um sorriso. Seguimos ambos em paz.

Tive pena dele, pois percebi que naquelas circunstâncias, ele estava refém da minha atitude. Seu humor das próximas horas dependeu exclusivamente de minha resposta. Ele me concedeu o poder de fazê-lo bem ou mal-humorado de acordo com a escolha da atitude que eu iria tomar. Para mim foi uma lição. Tomei a resolução de nunca deixar que meu humor, minha alegria e meu bem-estar dependam da cordialidade e da educação – ou falta de – de quem quer que seja. Espero que cada vez mais todos nós sejamos capazes de conseguir esta liberdade. Mas para tanto, é preciso lembrar que liberdade não é uma dádiva, mas uma conquista.

4 comentários:

Zulma disse...

Muito bacana porem cada dia mais em desuso esse tipo de atitude.
Parabéns!

Luiz Alberto Py disse...

Zulma, se os outros não usam, nós podemos usar. Saudações.

Mariana disse...

Dr. Py,
Este caso me lembrou um dia que vi uma moca com os filhos sem dinheiro para pagar o lanche. Ela nao sabia que o lugar nao aceitava cartoes. Perguntei se poderia ajudar pagando. Ela agradeceu muito e pediu minha conta para depositar o dinheiro. Ouvi o filho dela perguntando: mae, ela acreditou em voce? A mae respondeu: ainda existem pessoas que acreditam nos outros.
Quando verifiquei o meu extrato estava la o deposito com uma mensagem escrita "obrigada".
Nao esperava receber o dinheiro de volta, mas aquela situacao valeu muito mais do que os reais que poderia ter perdido.
O cotidiano realmente pode nos ensinar muito e pequenos gestos mudam pelo menos o nosso dia.
um abraco,
Mariana

Luiz Alberto Py disse...

Que bela história, que belo gesto. Valeu.
Abraços.