Luiz Alberto Py

DEIXAR O PASSADO PARA TRÁS

Além do erro de querer mudar o passado, ou ficar lamentando-o, algumas pessoas caem em outra armadilha ao tentar reproduzir-lo, procurando repetir as coisas boas de antigamente. Tais esforços costumam gerar enormes frustrações, já que é impossível repetir o passado. Lamentável ou felizmente, é impossível repetir tanto os bons quanto os maus momentos da existência.Quem já tentou, sabe do que se trata. Para quem vive dele, o passado é uma prisão. O pior é que, se porventura, conseguimos fazer voltar o passado, ele retorna como uma caricatura, sem o mesmo paladar. Nunca conseguimos reproduzir o sabor do doce que comemos na infância. É o mesmo fenômeno que ocorre com os perigos. Os perigos que nos parecem tão grandes e ameaçadores em nossa infância, na idade adulta nos fazem sorrir.
Diante disso, é possível perceber que a maioria dos sofrimentos emocionais pelos quais passamos estão ligados a duas coisas sem o menor sentido. Em primeiro lugar, à busca desesperada e inútil de prazeres antigos, ou velhas alegrias, impossíveis de serem reproduzidos.Ou então, a um medo absurdo e desnecessário de acontecimentos negativos que não se repetirão. Em ambos os casos, lidamos - geralmente sem perceber de forma consciente - com acontecimentos passados que são sentidos, em um caso como ameaças ao nosso futuro ou, por outro lado, como realizações desejáveis para o porvir. O mais importante é nos imbuirmos da convicção de que não existe necessariamente, uma relação entre o que foi vivido por nós no passado e o que poderemos viver no futuro.