06/02/2011

Hoje tomei banho de mar. Para mim, nos anos 80, era programa de todo sábado e domingo. Depois foi perdendo a graça e por vezes passo anos sem ir à praia. Meu filho queria correr a praia do final do Leblon até o Arpoador. Ele saltou do carro no Posto 12 e fui esperá-lo, com minha mulher, no Posto 7. Com a dificuldade para encontrar vaga para o carro, ele chegou primeiro do que nós, o que mais uma vez demonstra a irracionalidade de se usar automóvel para se locomover em uma cidade como o Rio, ou na maioria das cidades grandes sujeitas a engarrafamentos e falta de espaço para estacionar.
Levei a sunga já contando com a possibilidade de querer experimentar o mar. Quando encontramos meu filho me desvencilhei da bermuda e caímos no mar do Arpoador. Ondas fortes, água limpa e com temperatura amena, perfeito. Ficamos bons minutos me desviando das ondas, por vezes nadando para fora da arrebentação, não havia correntes e senti o mar acolhedor. Minhas lembranças desciam ao tempo em que minha mãe levava a mim e meu irmão de bonde, do Flamengo, onde morávamos, até Copacabana para banhos de mar diários no verão. Minha preferência era pelo Posto 6, onde as águas eram mansas e nadar era fácil e prazeroso.
Depois, já adolescente e morando em Copacabana, aprendi lições de vida convivendo com o mar. Dois ensinamentos foram valiosos: aceitar que o mar é muito mais forte e, portanto, respeitá-lo. E não me opor à sua força, mas contorná-la pacientemente. Quando a corrente nos pegava e levava não adiantava nadar contra ela. A gente se cansava e não saía do mesmo lugar. A única solução era se deixar levar e ir, aos poucos, saindo de lado. Exigia calma e só conseguíamos voltar à areia muito tempo depois e bem longe do ponto onde estávamos. Mas a gente voltava e estava pronto para entrar na água outra vez. E quando as ondas, na arrebentação, nos derrubavam, o jeito era mergulhar e ficar quietinho no fundo esperando elas passarem e o mar se acalmar.
Muito mais tarde compreendi que nossas emoções são uma pujante força da natureza. Nosso coração nos leva, como a corrente marítima, e nos derruba, como as ondas arrebentando na praia. É preciso saber esperar e aprender a sair de lado, aos poucos. Respeitar não significa concordar ou ficar submisso, mas reconhecer a intensidade de nossos sentimentos para poder lidar com eles. A emoção é o nosso motor, sem ela ficamos parados. Sem a razão que a oriente, a emoção nos faz mover sem direção. A razão é o leme, que dá direção aos nossos sentimentos e deve comandar nossa vida afetiva usando os recursos de inteligência que possuímos. Ela sozinha não pode nos mover, é necessário que a emoção nos impulsione. Só assim se pode chegar à felicidade.
Do Arpoador assistimos ao pôr-do-sol, sempre um espetáculo deslumbrante. Minha mulher comentou que não precisávamos ir para Punta del Este ou Torres no Rio Grande do Sul, onde ultimamente estivemos, para esta contemplação. Meu único argumento foi que haviam sido oportunidades de estar com amigos queridos tanto em Punta quanto em Torres e também no por do sol do Guaíba em Porto Alegre. Mas o pôr-do-sol do Arpoador é melhor. Não tanto por ser mais bonito, enfeitado pelas altas montanhas – Pedra Bonita, Gávea, Dois Irmãos – mas pela animação da platéia, uma enorme multidão, na praia e na pedra do Arpoador aplaudindo demoradamente a desaparição do sol no oceano. Pequenas coisas que tornam a vida melhor.

2 comentários:

Marcia Frati disse...

Nossos dias são como telas em branco que vamos pintando com os acontecimentos marcantes, algumas dessas telas ficam esquecidas num canto qualquer, empoeiradas sem moldura. Mas são momentos como este que você descreve, que fazem uma moldura magnífica da nossa obra de arte diária. Um beijo no seu coração, mestre!

ELIANE KRONIG disse...

Tenho uma maneira muito semelhante à sua de olhar a vida. Venho ao enontro de suas palavras quando o assiti no Programa do Roberto D'Ávila. Por essa razão me emploguei mais ainda em comprar o seu livro : AMOR E SUPERAÇÃO.
Aliás comprarei TODOS!