27/08/2010

A LENTE CORRETORA DA RAZÃO

Os maus tratos recebidos durante a infância são as principais causas de baixa auto-estima. Isto se deve à facilidade com que tais maus tratos são interpretados pelas crianças como uma prova de sua falta de valor e, portanto, como indicação de que não devem se prezar. Quando uma criança recebe pouco amor, a conseqüência dessa situação será auto-estima diminuída. Quanto maior for o sentimento de estar recebendo pouco amor, ou quanto menores forem as manifestações de amor, mais grave será a baixa auto-estima. Devido ao seu natural egocentrismo, a criança interpreta o fato de estar sendo pouco amada como uma conseqüência de não merecer ser amada e, portanto, entende que ela também não deve amar a si mesma.

O adulto que viveu, durante sua infância, essa situação traumática, tem dificuldade para acreditar que é amado e costuma exigir constantes provas de amor de seu parceiro. Ele, no fundo, mesmo que não o perceba conscientemente, não se acredita merecedor de amor, por causa de suas vivências de infância. Uma prova de amor dura poucos dias. Sucessivos e incessantes gestos de amor nunca chegam a ser satisfatórios. Seu sentimento pode ser assim traduzido: "Se meus pais não me amaram, eu não mereço ser amado, não tenho razões para me amar e todo amor que eu estiver recebendo é falso ou conseqüência de um engano.”

A solução para esta situação é trabalhosa de ser atingida, embora fácil de ser descrita. É necessário que a pessoa carente de auto-estima perceba que sua dificuldade é interna e que, por isto, não poderá ser resolvida com gestos externos. Precisa aceitar que cabe a ela transformar sua forma de reagir. Seus sentimentos não desaparecerão, mas na medida em que ela entender que os sentimentos são falsos e enganosos passará, a dar cada vez menos importância a eles e deixará de agir levada pelo impulso. A razão, nesta situação, serve como uma lente corretora que mostra a realidade, corrigindo a miopia de um sentimento equivocado. Assim a pessoa pode vir a apreciar o amor que desperta nos outros e também retribuí-lo, revigorando sua própria capacidade de amar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Passo a acompanhar seus textos, assim como já lemos seus livros. Lemos, no EPBA-Espaço Psicanalítico da Bahia, pequeno grupo que acredita numa Psicanálise plural, sem "adição" a grupos, autores ou correntes. Estamos mais para teorias do que doutrinas e pensamos a clínica como modeladora das nossas capacidades.
Pelo menos uma vez por mês convidamos um Mestre para passar uma Sexta a tarde e um Sábado conosco, para aprendermos a desconstruir conceitos e ver as mesmas coisas com novos olhos.
Ja estiveram conosco, Zimmerman, Resende, Safra, Ignacio Gerber, Figueiredo, dentre muitos outros e vamos a Portugal convidar o Prof. António Coimbra de Matos, com quem já temos longa relação escrita.
Como poderíamos entrar em contato com o senhor?
Não vi o blog todo, talvez tenha uma direção por lá.
Boa sorte e obrigado pelos ensinamentos.
Genaldo Vargas
fgv@attglobal.net